Viajar abre sempre a perspectiva do ser humano sobre a vida, muda paradigmas, refresca o olhar sobre as coisas e renova a motivação, e, se estivermos abertos a aprender, pode modificar-nos totalmente.
Na semana passada voltei à cidade onde vivi 12 anos, Paris. Levei comigo um novo parceiro, um novo corte de cabelo e uma nova Sónia Saraiva, aquela que já mudou, cresceu e evoluiu ao voltar a Lisboa há três anos atrás.
Tive expectativas, muitas memórias de muita coisa que aconteceu vieram à tona, umas boas, outras, foram obstáculos que me desafiaram a ultrapassar barreiras internas.
Toda a viagem foi um oscilar de “mixed feelings”, assim como é Paris, e pouca gente o sabe.
Passeios incríveis, encher os olhos com a beleza da cidade, respirar a cultura que transborda em todo o lado é uma forma de viver Paris. Mas, outra perspectiva é a Paris de quem lá vive e o desafio que esta senhora nos entrega. Sim, costumo dizer que Paris é uma senhora caprichosa, cheia de manias, que nos testa para ver se realmente merecemos ali viver e prosperar, naquele pedaço de terra onde tanta coisa aconteceu e tanta coisa acontece!
Viver em Paris é sentir o passado no presente, como subir seis andares de escada em caracol sem elevador com as compras da mercearia do bairro, mas num prédio lindo! É andar 45 minutos num metro labiríntico todos os dias para ir trabalhar (metro bastante eficiente por sinal)…e 45 minutos para voltar… É ver o sol só de vez em quando….às vezes, uma vez a cada três meses! É celebrar a Primavera quase em Maio, após oito meses de frio e céu cinzento.
Mas a minha experiência desta vez foi diferente. Andei por todos os bairros onde morei e agradeci tudo o que vivi e tudo o que aprendi em cada um deles. Mostrei a cidade ao meu parceiro com os meus olhos, os olhos de quem não tem ilusões e conhece os dois lados da grande senhora!
Fui à escola que fundei com tanto amor, trabalho, suor, gargalhadas e lágrimas. E este foi sim o ponto mais alto da viagem.
Percebi que o propósito que eu tinha quando construí aquele lugar estava vivo. Sentia-se no ambiente, no sorriso das pessoas, no espaço e na forma como este continuou a ser cuidado após a minha partida. Foi tão bom, tão emocionante, e tão feliz o momento em que entrei na “caverninha”. Aquela “caverninha” que é ainda hoje um oásis dentro do furacão de Paris, um lugar onde os alunos e professores da nossa cultura respiram, descontraem da loucura da cidade e podem ser eles mesmos, onde vivem o seu momento partilhado com um grupo de pessoas que procura a mesma coisa.
Viver este momento, abraçar todos de uma forma tão leve e tão feliz só foi possível porque me desapeguei deste filho. Vê-lo crescido, a andar pelas próprias pernas encheu o meu coração de orgulho e reforçou que tomei a decisão certa.
Pense nisto caro leitor, quando o criador se desapega da criação, permite que ela cresça, voe e se expanda. Isto é válido para projetos, coisas, mas principalmente para pessoas.
O Desapego é Amor incondicional, aquele que respeita o outro como ele é e que nos permite respeitar a nós mesmos. E no final de contas desapegar permite-nos crescer, transcender barreiras e perceber, que nada fora de nós nos pertence!
Sónia Saraiva
És uma inspiração! Fico super agradecida estares na minha vida.